A noite condena os alvos
Seleciona os gatos pardos
Que a sombra do beco escondeu
Escura é tua alma
Inóspita, intransponível, indolor
O que sai de ti é escarro
Atinge e progride a dor
Somos iguais, então?
Lamarckzado por escassez do pão
Sou diferente por dentição
E tu vens me julgar
Com força apocalíptica, julgar
Trazes em mão a fúria dos deuses
Que Zeus não há de parar
A espada inflamável que em mim aflora
Condena esta boca que te implora:
Sou apenas escravo de minha condição
O fogo que fumaceia em tua boca
Por ti é jogado aos meus pés
O fogo sobe, é rápido, e queima, e dói
O grito comove, e a alma dói, e dói
Um índio foi executado
Com requintes de crueldade
Poderia ser um mendigo
Insana leviandade!
Nero e sua lira
O homem e sua pira
Pira o homem, e a lira pira
E a orquestra irônica se ria
Ria à pira, pira mania!